[SÉRIES] Hannibal
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Durante muitos anos da minha vida eu ficava me questionando porque as pessoas eram daquela forma com que eu as observava, o que levava elas a escolherem caminhos que eram condenados pela sociedade de um modo geral, mas para quem trilhava aquela vereda era algo absolutamente normal. Então, em 2013, num período turbulento da faculdade eu descobri um seriado chamado Hannibal, tendo como ator principal que interpreta o nosso vilão-herói o ator Mads Mikkelsen (que será o futuro inimigo de Doctor Strange no filme homônimo que irá estrear este ano).
A série de televisão thriller estadunidense foi desenvolvida por Bryan Fuller para a NBC e baseia-se nas personagens e nos elementos aparentes no romance Dragão Vermelho de Thomas Harris, focando na relação de amizade entre o investigador especial do FBI Will Graham e Dr. Hannibal Lecter, um psiquiatra forense destinado a se tornar o inimigo mais astuto de Graham.
Descobri então que o que leva as pessoas a agirem de determinada forma são as suas motivações internas, aliadas ao caráter psicológico que é formado ao longo dos anos à partir das experiências vividas.
Hannibal, apesar de ter sido interpretado de forma magnífica por Anthony Hopkings, nos cinemas na sequência O silêncio dos inocentes, Dragão vermelho, Hannibal e Hannibal: a origem do mal, com Mikkelsen percebemos o personagem de forma mais detalhada; Que ele leva uma vida que em sua fachada é maravilhosa. É um excelente cozinheiro, um verdadeiro artista da culinária, detalhista como Michelangelo a meu ver, um homem elegante, refinado que é capaz levantar com a maior elegância uma taça de Puligny Montrachet, porém esta elegância não é posta de lado ao punir alguém quando encontra uma pessoa que viola suas regras, suas condutas de vida, e se tem algo que ele detesta é a falta de respeito, de educação das pessoas. A grosseria. E é nesta parte que nosso lado mais selvagem se identifica com o personagem, pois quem nunca pensou que queria que alguém morresse ou fosse assassinado por conta de uma palavra porcamente dita?
O que nos impede de cometer um ato selvagem são os conceitos morais, que hoje são depreciados pela sociedade como um todo em prol de uma liberdade sem freios e limites (minha opinião). Para Hannibal estes conceitos sociais não são válidos.
Vemos na primeira temporada que o personagem mata uma garota de mais ou menos quinze anos porque ela chamou a mãe de vadia. Na cabeça dele com certeza passou algo que vemos só em Hannibal Rising, que o trauma de perder sua mãe na segunda guerra mundial quando era bem pequeno, definiu a formação de seu caráter. E aquela garota que tinha sua mãe é brutalmente assassinada porque não soube valorizar a peça valiosa que tinha em suas mãos e a depreciou com a palavra: "Vadia". (Ou "bitch" como é dito em inglês, e alguns traduzem como "puta". Eu não sei ao certo qual se enquadra melhor.).
O seriado é permeado por diálogos psicanalíticos que fazem com que nos identifiquemos em algumas situações com os personagens, e comecemos a perceber que a forma com que enxergamos a realidade, às vezes não é a melhor forma, que há vários prismas, ângulos, a serem analisados.
Hannibal é uma série que quanto mais se assiste encontramos sempre um detalhe que deixamos passar e que é profundamente enriquecedor tanto cultural quanto psicologicamente, e percebemos que o que para a maioria é monstruoso para o protagonista é algo completamente natural. Já parou para pensar quantas situações desse tipo encontramos no nosso cotidiano?
Por isso fica minha indicação da série, apesar de já ter acabado na terceira temporada, infelizmente, ela será sempre atual, pois em muitos anos de história, por mais que o ser humano tenha evoluído, ele não deixou de ser um animal que usa roupas bem apanhadas e enche sua vida de floreios, mas que quando se aperta os botões certos se torna uma criatura selvagem, que apenas visa uma coisa: Deliciar-se com sua presa.
Dayana Panassi
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